Por Elisa Gonsalves Possebon
No Brasil, o conceito de competência foi introduzido no âmbito da educação pelo viés do atendimento à demanda do mercado: às instituições escolares deveriam realizar uma formação profissional que atendesse as demandas do mundo trabalho. A tentativa de estabelecer uma relação de linearidade entre escola-mercado não logrou resultados satisfatórios, sobretudo pela resistência dos profissionais da educação em reduzir seu trabalho à lógica produtivista.
Ao longo do tempo, aprofundamentos teóricos e metodológicos foram realizados, o que permitiu a ressignificação da noção de competência. Neste sentido, a ideia de competência passou a ser compreendida como a mobilização de recursos internos e externos, incorporando conhecimentos, habilidades e atitudes, para realizar uma atividade com excelência, idoneidade e criatividade, afirmativa de valores de autonomia, cidadania e bem viver.
Nesses termos, as questões que estão postas hoje são: quando se trata do campo da Educação Emocional, quais são as atividades que queremos ver realizadas? O que gostaríamos de perceber enquanto resultados demonstráveis? Como reorganizar o desenho curricular nas escolas considerando as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular considerando o desenvolvimento das competências socioemocionais? Afinal, o que queremos que os alunos(as) aprendam na educação emocional?
No artigo “Descobrir o Afeto: uma proposta de educação emocional na escola”, que escrevi com Fabrício Possebon, cinco competências emocionais foram destacada: (1) Perceber e acolher as emoções sentidas; (2) Adquirir capacidade de diferenciar e manejar as emoções; (3)Desenvolver a capacidade de refletir de forma crítica e criativa sobre as emoções; (4) Adquirir capacidade de pensar estrategicamente sobre as emoções visando o bem-estar; (5) Desenvolver a capacidade de vivenciar as emoções de forma saudável.
Estas cinco competências foram reagrupadas recentemente para compor o PROVE-Programa de Vivência Emocional. Este reagrupamento permitiu uma atualização e foram assim dispostas: Percepção Emocional, Regulação Emocional e Integração Existencial.
Competência 1: Percepção Emocional
A todo instante avaliamos e tomamos decisões baseados no que estamos vendo, ouvindo, em uma palavra, no que estamos percebendo. Isso significa que a percepção é a base maior da tomada de decisões dos indivíduos – agimos orientados pela maneira como compreendemos e percebemos o mundo, mesmo que não tenhamos consciência disso. Essa questão afeta diretamente as relações entre os indivíduos porque toda comunicação humana (palavras e gestos) é necessariamente emocional.
Percepção emocional é a capacidade de identificar emoções em si mesmo e nos outros. Quanto maior for a capacidade de identificar os sinais emocionais transmitidos pelo próprio corpo, ou por outros indivíduos, maior será a capacidade de avaliar corretamente a situação.
São habilidades relacionadas com a Percepção Emocional:
Habilidade 1: Reconhecer a informação que está associada com a emoção.
Habilidade 2: Reconhecer no corpo a emergência emocional.
Habilidade 3: Tomar consciência das próprias emoções do ponto de vista neurofisiológico.
Habilidade 4: Descrever a emoção.
Habilidade 5: Tomar consciência da relação entre emoção e comportamento humano.
Competência 2: Regulação Emocional
O desenvolvimento emocional de um indivíduo está relacionado com a forma de reagir às situações cotidianas. Isso significa que, independente da serem expostos a situações agradáveis ou desagradáveis, os indivíduos terão condições de dar respostas maduras e equilibradas.
Regulação emocional é a capacidade de lidar com as emoções de maneira apropriada. O indivíduo decide que estratégias utilizar para expressar ou não as suas emoções, e como expressá-las.
Também está incluída como regulação emocional a capacidade de prever cenários futuros, traçando metas e formas de agir e sentir diante dos desafios.
São habilidades relacionadas à Regulação Emocional:
Habilidade 1: Identificar situações que requerem mudanças.
Habilidade 2: Tomar consciência da necessidade de construção de novos hábitos.
Habilidade 3: Identificar riscos e problemas a serem superados.
Habilidade 4: Manter um comportamento assertivo diante da meta estabelecida.
Habilidade 5: Traçar cenários futuros com novas respostas emocionais.
Competência 3: Integração Existencial
O estado de harmonia emocional, cujos elementos permitem o estabelecimento de relações saudáveis é o cerne desta competência. Trata-se do distanciamento consciente de ações emocionais tóxicas. Enquanto processo educativo, a Integração Existencial se configura como o momento em que se substitui respostas impulsivas por um manejo consciente, em prol do próprio bem-estar.
Integração Existencial é a capacidade de incorporar o autoconhecimento como desafio permanente, tendo em vista a vivência do bem estar subjetivo consciente.
São habilidades relacionadas à Integração Existencial:
Habilidade 1: Expresar a emoção de forma saudável.
Habilidade 2: Despertar a própria voz interna qualificadora.
Habilidade 3: Reconhecer os impactos da sua expressão emocional nas outras pessoas.
Habilidade 4: Utilizar estratégias de autoregulação emocional.r
Habilidade 5: Desfrutar do universo emocional.
A descrição das competências de Educação Emocional e respectivas habilidades permite a construção pedagógica de tempos e espaços escolares para a vivência e aprendência das emoções na escola. Sendo um trabalho coletivo que envolve sensibilização, formação docente e reorganização do currículo, consideramos um desafio – o de oferecer situações de aprendizagem sobre o universo emocional, para realizarmos uma educação que trata do Ser Integral.